O celular vibra e começa a tocar a música tema do  Californication, me levanto subitamente para tirar o pequeno aparelho do bolso apertado e  atender, nenhuma esperança de ligação importante, mas o som do celular  está meio que alto demais para esse calmo ambiente de trabalho, só quero tirar as  atenções de mim. O visor mostra um número que eu desconheço, provavelmente é  apenas mais uma promoção da vivo, ou alguma cobrança da mensalidade do curso que  eu esqueci de pagar. Com toda minha simpatia eu atendo o celular com um animado  "Alôw!". Uma voz feminina que não me é estranha pergunta:
 - Quem fala?
 Eu fico em dúvida se respondo meu nome ou invento  outro, mas pela curiosidade acabo dizendo a verdade. A voz pergunta se eu estou bem. Novamente não respondo nada além da verdade,  digo que estou ótimo e não podia estar melhor, mas a essa altura meu coração dá sinais de vida, começo a ter ilusões de que a voz do outro lado é Dela, então pergunto:
 - Quem está falando?
 A resposta veio como uma furadeira no coração, e  mesmo de baixo do ar condicionado da empresa, minha pele se torna uma nascente  de suor jorrando com a resposta estremecedora que ela pariu. Ela só precisou  dizer:
 - Juliana.
 Esse é o exato momento em que tudo se desfaz, uma  escuridão maior que a do meu quarto bate nos meus olhos, e vai embora logo em  seguida com a chegada do sentimento de não saber o que fazer. O coração bate tão  forte quanto as batidas daquele último caloroso carnaval que passei na praia, e  já com a voz nitidamente abatida e estremecida, pergunto apenas para confirmar  que não estou morto ou sonhando:
 - Me desculpe, Juliana de onde?
 - Juliana-dos-Jardins - Ela responde com uma  singela risada.
 E começa o diálogo:
 - Oiii, como você está Ju? A que devo a honra de  sua voz em meu celular?
 - Na verdade liguei pois não estou muito  bem.
 - Aconteceu alguma coisa?
 - Aconteceu sim. Eu não sei o que  fazer.
 - O que houve? Posso ajudar?
 - Espero que ainda possa... eu percebi que fui uma  tola em não ter sido uma pessoa atenciosa contigo. Você sempre foi tão decidido  a estar comigo mesmo sem eu sequer ter pisado no seu pé, nunca te dando muita  atenção, deixando você falando sozinho no msn, fingindo que não te via na rua...  mas mesmo assim você sempre esteve lá, atencioso, se preocupando comigo,  querendo saber como eu estava, e tudo parecia ser tão sincero que me dava medo.  Só que hoje eu estou aqui, sozinha, sem nenhum pingo desse seu jeito nas pessoas  a minha volta. Sinto falta disso, sinto falta de você, sinto muito ter sido  cruel contigo. E por mais que eu não mereça isso, adoraria que você fizesse mais  uma tentativa, te juro que dessa vez seria diferente.
 Uma pausa atinge meu ser. Palavras que não me vem a  cabeça são apenas ditas:
 - Sabe Juliana, por muito tempo eu desejei que esse  dia chegasse, só que esses tempos acabaram, esse desejo, por mais que ainda  exista, não me causa mais explosões. Acho que você já me destruiu tanto, que não  há mais o que destruir, eu te amo, mas não há mais caminhos para encontrar esse  amor, tudo o que resta nessa voz que você escuta é uma sonâmbula existência  aguardando a morte. Não tenho mais tentativas nos bolsos, mesmo que essa fosse a  última que mudaria tudo. Sinto muito, eu não posso te ajudar dessa  vez.
 OK... chega de escrever, já deu pra sacar que essa  é apenas uma homenagem ao 1° de abril. 
 Juliana, eu Te  Amo................... (seja isso verdade ou não)
 dpfox