sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Perto da verdade

Eram 20:37hrs quando eu chegava em meu apartamento naquele dia, era uma quinta feira, e o trânsito mais uma vez roubava as poucas horas que me sobravam, tudo o que me restava depois de um dia cheio, era folhear o cardápio de pizza após um banho quente, mesmo sabendo que acabaria escolhendo o sabor de sempre... era o que eu imaginava fazer, meus planos para mais uma noite solitária, mas o que eu não imaginava é que o imprevisto se armava para atrapalhar aquele cotidiano vazio em que eu me encaixava.

Sexto andar, eu fico parado na porta selecionando a chave certa no chaveiro, mas para minha surpresa, antes que eu pudesse enfiar a chave na fechadura, a porta se abre com um simples toque de minhas mãos - eu não posso tê-la deixado aberta - penso eu; e muito menos com as luzes acesas, é quando percebo que pode haver algum intruso em minha residência, isso explica os passos suaves e desconfiados que dou nesse momento. Conforme vou me infiltrando pelo corredor de entrada, vejo as cortinas fechadas e o telefone fora do gancho, as revistas sobre OVNIs que compõem minha literatura se encontram espalhadas por todo o chão, um dos sofás está de cabeça para baixo, enquanto o outro teve suas almofadas atiradas para o canto da sala, o quadro que fica na parede da sala de jantar também está no chão, e foi rasgado como se tivesse algo escondido na lona, alguém nada sutil procurava alguma coisa aqui, mas o que?

No quarto, o ambiente era o mesmo, o colchão estava em pé apoiado na parede com um enorme rasgo no centro, as gavetas do guarda roupa todas jogadas no centro do quarto, enquanto pilhas e pilhas de roupas formavam um grande tapete escondendo o próprio chão, todos aqueles cds e dvds que sempre cuidei para não riscar se encontravam misturados e fora de suas capinhas originais perto do notebook que se encontrava ligado, aparentemente testaram todas as mídias em busca de alguma informação, e seja lá quem for que fez isso, conseguiu quebrar minha senha de usuário do notebook.

O banheiro também foi mexido, o espelho estava rachado e tudo o que eu guardava no armário estava jogado na pia, todos os meus frascos de pílulas contra insônia foram esvaziados na privada, e talvez por puro vandalismo alguém deixou o chuveiro aberto. A julgar pelo vapor intenso e os azulejos transpirantes, devem fazer algumas horas que o chuveiro está ligado. Após fechar o registro, fui prontamente até o escritório, pude sentir um cheiro de queimado ali, notei cinzas ainda quentes na lixeira. Os livros, ablolutamente todos foram para o chão, e alguns tiveram o triste destino de ter suas páginas arrancadas, minhas anotações desapareceram, e a caixa de sapatos com as fotografias de família aparentemente não está completa também, os recortes de jornais com manchetes especulosas e notícias de casos inexplicáveis agora são apenas pedaços de papel picado por todo o ambiente. Eu sei o que eles procuravam, e foram bem sucedidos, pois o disco rígido do computador foi retirado do gabinete e o encontrei em cima da mesa, obviamente o mesmo foi formatado, mas provavelmente copiaram as informações nele contidas, ou então só queriam fazê-las desaparecer.

De qualquer forma, mesmo correndo risco de vida, devo dizer que ainda possuo estas informações, e uma vez divulgado isso, espero que minha morte sirva de prova do quanto o governo manipula nossas ações. Não foi a primeira vez que invadiram meu apartamento, mas das outras vezes, a invasão foi sutil, seria imperceptível se não fosse toda a minha paranóia. Escutas e grampos foram implantados nos mais inoportunos lugares da casa, fui seguido diversas vezes por aqueles homens de terno, eles monitoram todos os meus passos, minhas palavras, e ainda zombam de mim fazendo-me parecer louco, paranóico, esquizofrênico... mas eles tem mesmo com que se preocupar, pois a verdade está lá fora, e não sou mais um fantoche de seu teatrinho governamental, as conspirações talvez nunca sejam de fato provadas, mas saber que meus arquivos estão causando dor de cabeça a eles, significa que dessa vez estou mais perto do que nunca da verdade, e eu não sei onde isso vai me levar, não sei o que vai acontecer nos próximos dias, talvez eu desapareça, talvez façam parecer um acidente, ou talvez essa carta me dê mais algum tempo de vida, o fato é que estou sendo caçado, e é questão de tempo até descobrirem meu esconderijo, tenho medo do que possa acontecer comigo, certamente farão as mais diversas formas de tortura, e finalmente vou descobrir se o pentotal sódico realmente funciona, porém, vou dizer aquelas que podem ser minhas últimas palavras:

"Caro Frank Castle, se você pode ler isso, faça a lição de casa. Se o perímetro não estiver comprometido faça o X com fita adesiva na janela dos fundos, entrarei em contato em dois dias, se algo der errado não deixe os arquivos se perderem, encontre-os no cesto do lobo mau, mamãe urso protege os filhotes de dia mas de noite chapéuzinho vermelho anda sorrateira pelo bosque. Tome cuidado!"

sem mais,
dpfox