quinta-feira, 14 de maio de 2009

Suspiros na imortalidade

Para Cris,

Se eu tomasse a decisão de escrever esta carta enquanto ainda éramos próximos, ou mesmo se arriscasse a molhar o bico da pena após ter te visto, eu não conseguiria exprimir metade do que penso. Ainda não demonstrarei em perfeição o que sinto; isso me é impossível. Mas a distância trouxe saudade, e, mais tarde, a reflexão.

Divido nossa trajetória em três momentos: choque inicial; ódio e aceitação. Quando primeiro me transformou em escravo, iludi-me com você, colocando-a ao lado do mundo mágico que eu descobri, e passei a amar. O misto das sensações, beleza, desejo e medo me fizeram amar a vida. E a te amar também. Será que não poderíamos ter dado certo? Não. Dediquei-me tempo demais a reflexões para não gerar dúvidas nessa carta, a qual considero ato único e definitivo. Os fatores foram vários, e sua combinação é talvez o motivo mais provável para nossa decadente relação. Mundos diferentes, você beleza, eu sonho, paixão. Mas os sonhos não resistem ao passar do tempo, o mágico se perdeu, a definição do místico desprendeu-se de você ,e me encontro sozinho, perdido no escuro, na ausência de sentidos, desiludido e fraco. Te odiei e odiei não te amar.

Não pense que ue estou escrevendo uma biografia nesta carta! Apenas estou retomando memórias, pensamentos para formarem o meu “Eu” hoje. Foi na fase da aceitação, logo após viajar o mundo com Juliana, que desisti de viver, e isso para alguém como eu, significa levar em estado vegetativo as funções básicas que determinam nossa existência; mas então te encontro no ponto de início ( e esse reencontro foi há quantos dias, 10, 20?), e você estava lá. Esvaida da beleza celestial que sempre foi sua força, decrepita, sem esperanças. Não consegui sentir pena – talvez compaixão, como se de repente meus órgãos se contraíssem e relaxassem freneticamente, num misto de gozo e horror, como se toda minha vida de escravo estivesse passando pelos meus olhos, e não fosse mais nada; como se meus critérios fossem mudados naquele momento, meus pensamentos, minhas ideologias. Era como aprender a ver a magia na vida pela segunda vez, agora com muito mais experiência e noção de prazer.

Agora de frente para o computador, debruço-me com tanto vigor sobre a mesa que , no fundo, acho que apenas quero me fundir para sempre com essas memórias, com minha vida anterior. O que realmente quero lhe dizer se resume única e exclusivamente nessa frase:

Eu te amo.

Te amo mais do que minha própria vida. Por toda minha trajetória, amei cada mudança de seu ser. Amei você como mestre do mundo novo, como bela sedutora; amei você decadente, ser de pura raiva e ignorância, aquela que tornou meus dias um inferno, mas que por dentro açoitava minha alma.

E hoje estou sábio, lúcido. E ainda te amo. Amo seu corpo e sua Alma, cada pedaço de você. Agonizo ao pensar que não há maneira de consumir esse amor, apagar esse vício. Cada célula do meu corpo passará sua vida pensando em você. Sem você, sou apenas suspiros na imortalidade.

Eternamente desse mundo, infinitamente teu.

JAMC