Uma multidão fecha as saídas no centro  da estação, a música dos fones de ouvido sucumbe a uma voz feminina quase  eletrônica alertando sobre a pressa causar acidentes, ninguém demonstra dar  atenção, é quando aquele som vago da  locomotiva se torna cada vez mais amplo por todo o ambiente, e a vibração  dos passos largos e apressados de cada pessoa dá lugar a um tremor em todas  as estruturas. O trem se aproxima com mais um carregamento de multidão, todos  parecem estar em harmonia com o atraso, ponteiros e trilhos, passos e empurrões,  ida e volta de um mesmo lugar.
 Enquanto isso, em outro canto da cidade o sinal indica o verde, indica o amarelo, indica  o vermelho, e os carros se mantém no mesmo lugar, hipnotizados com a dança dos  semáforos, isso faz todos cantarem harmonicamente suas buzinas, um coral muito  bem ensaiado, tanto, que a empolgação faz alguns gritarem seus xingamentos mais  baixos. A mesma orquestra de todo dia, hoje, posição privilegiada na pista da  esquerda, a única que se mantém estática, curiosamente a que você se encontra.  Sirenes cortam a melodia enquanto multas são distribuídas ao público, nenhum  atalho, nenhum tapete vermelho, somente o tortuoso trajeto todos os  dias.
 O mundo gira, o tempo passa, e pessoas correm,  estamos em desvantagem, mas a dependência de café preto ajuda os bocejos  furiosos. O banho tomado pela manhã de nada  valeu, respiração ofegante, ar abafado, oxigênio pesado, sim, isso é suor  evaporando pelos poros do seu revestimento de pele. 
 O salário muitas vezes não paga o estresse, porém  sempre desconta o atraso, isso explica muita coisa, mas enquanto suas pernas  quase não se aguentam mais eretas, o cansaço insiste em correr pelas suas veias.  Tente manter a calma, pois esse é apenas o começo daquilo que você se submeteu quando  se rendeu ao despertador pela manhã.