terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Bocejos furiosos

Uma multidão fecha as saídas no centro da estação, a música dos fones de ouvido sucumbe a uma voz feminina quase eletrônica alertando sobre a pressa causar acidentes, ninguém demonstra dar atenção, é quando aquele som vago da locomotiva se torna cada vez mais amplo por todo o ambiente, e a vibração dos passos largos e apressados de cada pessoa dá lugar a um tremor em todas as estruturas. O trem se aproxima com mais um carregamento de multidão, todos parecem estar em harmonia com o atraso, ponteiros e trilhos, passos e empurrões, ida e volta de um mesmo lugar.

Enquanto isso, em outro canto da cidade o sinal indica o verde, indica o amarelo, indica o vermelho, e os carros se mantém no mesmo lugar, hipnotizados com a dança dos semáforos, isso faz todos cantarem harmonicamente suas buzinas, um coral muito bem ensaiado, tanto, que a empolgação faz alguns gritarem seus xingamentos mais baixos. A mesma orquestra de todo dia, hoje, posição privilegiada na pista da esquerda, a única que se mantém estática, curiosamente a que você se encontra. Sirenes cortam a melodia enquanto multas são distribuídas ao público, nenhum atalho, nenhum tapete vermelho, somente o tortuoso trajeto todos os dias.

O mundo gira, o tempo passa, e pessoas correm, estamos em desvantagem, mas a dependência de café preto ajuda os bocejos furiosos. O banho tomado pela manhã de nada valeu, respiração ofegante, ar abafado, oxigênio pesado, sim, isso é suor evaporando pelos poros do seu revestimento de pele.
O salário muitas vezes não paga o estresse, porém sempre desconta o atraso, isso explica muita coisa, mas enquanto suas pernas quase não se aguentam mais eretas, o cansaço insiste em correr pelas suas veias. Tente manter a calma, pois esse é apenas o começo daquilo que você se submeteu quando se rendeu ao despertador pela manhã.