sexta-feira, 24 de julho de 2009

Do lado de cá do vitral

Imensidão é aqui,
foi do lado de lá que eu vi
um cartão postal dizer
adeus!

Deixei de lado e fui atrás
no diz que me diz só tanto faz
encontrei aquilo que sonhei
larguei...

...mão de te dizer
vou onde for só por você
me leva pra longe e eu estou lá;
cadê?

Deixa de manha meu bem
olha pra fora eu te encontrei
do lado de cá do vitral
te achei

lhe peço desculpas e obrigado
abre-me a porta ao frio gelado
hoje sou teu feliz assim
e carrego por ti dentro de mim
amor

dpfox

sábado, 18 de julho de 2009

About NY

Minha querida Ana,

tentei te enviar este e-mail ontem, mas a bateria acabou enquanto eu escrevia...


Ontem voltei a biblioteca para usar o computador na e procurei na busca de alguns hotspots (locais onde consigo acessar internet wireless), com posse destas informações percorri estes lugares até encontrar uma rede indefesa o suficiente para que eu tivesse acesso livre a internet... o que foi relativamente fácil.

Falei com nossa mãe e pude contar um pouco a ela do que vou lhe descrever, peço humildes desculpas por você não ser a primeira a receber as novidades... mas foi apenas por força da ocasião.


New York é bela como nos cinemas, a primeira impressão que temos é que não é um local para principiantes... tem seu charme, principalmente nos pequenos detalhes: taxisitas nervosos xingando pedestres e outros carros, um oceano destes ruidosos monstros amarelos em cada rua. As Avenidas são infinitas, numeradas como um enorme mapa, uma verdadeira poluição visual de telões em arranha-céus que só podemos ver o topo quando estamos a quarteirões de distância...tudo muito lindo, muito movimentado, muito cheio...

Time Square toda acesa deixa claro o porquê deste ser o país da tecnologia e do consumismo, a Brodway parece um imenso show de caça talentos, cheio de pseudo-atores, e demais aspirantes a artistas tentando ganhar a vida com o que chamam de arte...

Carol, nada disso se compara ao efeito que a visão da estátua da liberdade nos causa: é a coisa mais forte que já vi, tive vontade de chorar... arrepia ver aquele Gigante esverdeado se impondo ao céu e desafiando o horizonte... só de lembrar já estou com água nos olhos... definitivamente uma das coisas mais impressionantes que vi em toda a minha vida.


Mas a magia fica por ai, New York é apenas um local de trabalho, muito poluído, super lotado, extremamente comercial, uma cidade confortável apenas quando se ve pelas telas da tv, em nossos sofás, no aconchego do lar. Na vida real, é um local hostil.

Gastei o dia de ontem (17/jul) me adaptando ao ambiente, o que acredito ter feito perfeitamente... Hoje começo minha maratona de turista(o que já devo ter feito quando você receber este e-mail), percorrendo os locais para tirar fotos, mas definitivamente esta é minha última visita a New York, não gostei deste tumulto...

Mas não se engane: eu poderia viver minha vida toda aqui sem ter problemas, a verdade é que encontrei um lugar onde nunca me senti tão a vontade em minha vida, e este lugar se chama Daytona Beach, na Flórida.

ah, como eu gostaria de poder morar em uma cidade como essa... limpa, calma, uma praia maravilhosa, pessoas bonitas, simpáticas, e com toda a tecnologia que temos em uma cidade grande como NY, apenas com mais conforto. Esse tipo de coisa não encontraremos em nosso país, não nesta vida...


Resumindo, New York é definitivamente New York, uma cidade singular, um lugar para se lembrar... Queria tanto que você pudesse estar aqui comigo, só assim você entenderia o que estou tentando lhe descrever, falar sobre esta cidade é como tentar descrever as expressões de um auto-retrato de Rembrandt... impossível...



Com Amor,
JAMC

sábado, 11 de julho de 2009

Previously On Lost...

Bom, como já disse antes, 200 toneladas de aço a 10km de altitude e 800km/h só podia dar merda...
só parar variar, eu tava certo de novo!

Das diversas cartas póstumas que já escrevi, esta está sendo a mais difícil, talvez porque seja a primeira que não é de suicídio ( ou talvez porque a merda do telefone não para de tocar!!!)

enfim, só queria que soubessem que eu tive uma vida plena: a oportunidade de aprender muito com meus incontáveis erros, aprendi a valorizar o amor através das minhas decepções, tive amigos verdadeiros e inimigos que tornaram minha vida mais interessante, desafiadora.
Ainda tinha muitos planos, desejos e sonhos, que espero agora poder trocar pela felicidade de todos vocês... por isso, não fiquem chorando por mim, sorriam, vocês são tudo o que restou de mim nessa vida e por isso têm a obrigação de ser tão felizes quanto me fizeram ser...

Amo todos vocês...
JAMC


**nota do autor: (odiei a carta!)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Atrás das grades

Querida Ju,
Já faz tempo que não escrevo pra ti, sinto que minhas letras estão ficando tortas e desleixadas, e confesso uma dificuldade em saber o que devo escrever. Não sei se essa carta vai chegar até suas mãos, talvez seu endereço tenha mudado, mas vou escrever do mesmo jeito.

Fazem nove anos que fui trancafiado aqui dentro, nove anos que o único vínculo que me resta com o lado de fora desses muros são as memórias, eu continuo alegando inocência, mesmo não sabendo mais o que isso significa, à muito decidi que não iria mais me torturar com o assunto, mas se houve algum crime, acredito que reabilitado seja a palavra usada para hoje me descrever.

O convívio com as grades me desabilitou do mundo, agora a única janela que me mantém respirando é o amor que sinto por você, algo que cada vez mais vai desaparecendo dentro de mim, e as crises de falta de ar são cada vez mais comuns,
nunca pensei que o tempo pudesse ser tão cruel com a existência de uma pessoa, a sensação de "câmera-lenta" que envolve os presos desse lugar acaba sendo brutal com a sanidade de alguns, é preciso ser forte, porém aqui é comum ver homens fortes cederem a chorar.

Na última rebelião fiquei deitado em minha cela, toda gritaria no pavilhão principal era constantemente cessada com os rasantes do helicóptero da polícia, enquanto o caos tomava conta do prédio, fiquei pensando em ajudar na construção do túnel que alguns detentos estão planejando, seria bom não ter mais que passar por essas rebeliões, mas a essa altura, uma tentativa de fuga acabaria completamente com as chances do meu pedido de condicional ser aceito, ano que vem faz uma década que estou aqui, então eu acho que posso esperar um pouco mais.

Gostaria de poder escrever mais vezes, porém é difícil conseguir uma caneta aqui dentro, para a maioria dos presos elas são muito mais valiosas como armas, mesmo que isso signifique não poder escrever para os familiares. Eu fiz um amigo aqui dentro, do lado de fora ele acabou realizando alguns assaltos que o trouxeram para cá, aqui dentro ele é o sujeito que consegue algumas coisas em troca de cigarros, foi ele quem possibilitou essa carta, é um sujeito bacana, te mandou um abraço; a cela dele é repleta de fotos da noiva, e bem que eu gostaria de carregar uma foto sua em meu bolso também, mas minha cela tem apenas seu nome escrito pelas paredes. Ontem, um dos guardas do plantão da noite me pegou escrevendo para você, mas o meu bom comportamento nesses nove anos que cá estou me livrou de uma punição, ele permitiu que eu terminasse a carta contanto que eu lhe entregasse a caneta pela manhã quando o seu turno terminava, bom pra mim.

Enfim, só queria dizer que tenho saudades, a lembrança do seu rosto já me salvou a vida por diversas vezes aqui, e todos esses anos enjaulado me serviram para exprimir toda a minha capacidade de amar alguém, finalmente, quase dez anos depois, essa capacidade vai chegando ao seu final. Foi-se quase uma década em um presídio de segurança máxima, condenado por um crime onde não houve pecado, a sentença não foi perpétua, e o preço por te amar não foi tão alto, sequelas ficarão eu sei, porém, a liberdade de nada me vale se não houver alguém para amar.

Espero que as coisas estejam bem por ai,
com amor,
prisioneiro N° 241083
dpfox